Olha quem só quem voltou das férias!
O Cara do Espelho está de volta com texto inédito,
Escrava do Ritmo, escrito numa das idas e vindas para a faculdade ao som de
Slave to the Rhythm do rei do pop, Michael Jackson.
Leia e compartilha!
Escrava do Ritmo
Ela está aqui porque
não tem mais para onde correr nem onde estar. Veio parar aqui por não ter mais
a quem recorrer, acabou aceitando os fatos e as cartas na mesa.
Ela apostou alto,
perdeu tudo e se perdeu.
Ela sonhava em ter
tudo, ser a dona do mundo, ter mais para ser mais e nunca fez questão de respeitar
limites.
Ela andou e pisou em quem
pôde, esqueceu o que seus velhos pais tanto diziam, acreditou no que aquele
cara disse e deixou tudo para trás. Disse até amanhã para seu pequeno filho e
veio parar aqui.
Agora ela dança
porque tem uma faca no pescoço e outra na consciência. Dança porque não pode
correr, por estar paralisada dentro de si enquanto mexe o quadril.
Ela é do tipo que tem
olhar felino de quem está pronta para matar, o sorriso provocante e a resposta
na ponta da língua, língua que percorre os próprios lábios, que atrai, seduz,
satisfaz, vai fundo e enlouquece. E cobra caro.
Ela está pronta para
o que der e vier, mas por enquanto apenas dança. Ela olha a saída e os capangas
de seu mestre, depois os velhos babando aos seus pés e lhe jogando dinheiro e joias.
Olha para um misterioso homem ao fundo, fumando seu charuto e a admirando. Será
que finalmente seria seu salvador ou apenas mais um cliente curioso?
Ela dança também para
não chorar, por saber que seu fim está cada vez mais próximo, pois já não é
dona de si própria. Vendeu sua alma e agora seus próprios demônios estão vindo
cobrá-la.
Aqui e agora, seu
corpo seminu é tudo o que tem e, como não lhe resta mais nada, dança apenas porque
não pode correr e porque não tem mais nada em que acreditar.
O locutor a anuncia
para os homens como a “Rainha da Noite” quando, na verdade, ela não passa de
uma escrava, mais uma naquele inferno.
Diogo Souza, em 14 de
agosto de 2014