Faz
um tempo que eu pedi aos seguidores do Cara do Espelho sugestões de temas para
posts e vídeos no blog. Um dos temas foi a solidão na era da internet. Quando
recebi a sugestão, iniciei um texto com coisas que pensava a esse respeito.
Também fiz uma pesquisa na internet sobre o tema e montei uma lista do que eu
achava que poderia ser.
![]() |
Reprodução: Netflix |
Mas
eu precisei de alguns meses para realmente entender o que era esse sentimento
de solidão em plena era das comunicações digitais. Em mim, isso começou com
aquele período em que ficamos cismados das coisas, com as pessoas e seus
comportamentos a nossa volta. Então, todas aquelas publicações engraçadas, emocionantes,
religiosas e sensuais que apareciam no feed
do Facebook começaram a me incomodar.
Foi
aí que encontrei um dado que me fez refletir sobre isso. Pesquisadores da
Universidade Edinburgh Napier, da Grã-Bretanha, entrevistaram 200 estudantes
que são usuários do Facebook e outras redes sociais e listaram as situações que mais geram
estresse. Dos alunos questionados, 12% disseram não gostar de receber novas
solicitações de amizade, enquanto que 63% demoram para responder a esses
pedidos. Os pesquisados afirmaram que se sentem pressionados para fazer
atualizações criativas e manter seus perfis atualizados.
Essas
e outras coisas estavam me deixando estressado, mesmo sem eu perceber e
entender o motivo. Li que quando estamos sob estresse e ansiedade, as redes
sociais e todo esse mundo virtual, que adotamos como real, começam a nos
incomodar. E, nessas horas, segundo os especialistas, o melhor para nossa saúde
é desconectar.
Então,
depois de muito estresse, desativei minha conta no Facebook. Eu até achei que
seria o fim desse foco de estresse, mas não. A grande maioria dos aplicativos e
ferramentas online que uso para trabalhar estavam conectados ao Facebook. O Spotify,
por exemplo, nem ao menos oferecia a possibilidade de logar sem a rede social (problema resolvido com o suporte, que está
de parabéns). Tudo dependia do Facebook.
Foi
aí que eu comecei a perceber a gravidade da coisa. Estou no Facebook há mais de
seis anos e, de lá para cá, foram duas contas e milhares de informações que
lancei na web para as grandes empresas do ramo dos algoritmos. Não tinha um dia
que não olhasse o face, curtia e comentava
coisas, compartilhava meus momentos, meus textos e minhas fotos. E, mesmo
quando não tinha nada de interessante, o Facebook ainda dava um jeito de
apresentar memórias antigas.
Mas
de uns tempos para cá, tenho ficado mais ranzinza, é verdade. E toda aquela
interação superficial, as brigas de opiniões, as receitas de bolo, as brigas
religiosas, os bichíneos fofos e o
deboche com a vida dos outros começaram a me incomodar profundamente. Coisas
que eu faço e acompanho todos os dias, de repente, me pareciam autopromoção,
falso, mentiroso...
Quando
me desconectei do Facebook, também tentei diminuir o acesso às outras redes sociais
e foi aí que percebi que a coisa era mais grave. Comecei a analisar as coisas
ao meu redor. Até a avaliação do Uber, tanto a que você dá quanto a que recebe,
é motivo de preocupação exatamente como no episódio “Nosedive” da série Black
Mirror, que mostra como a dependência por likes pode afetar a vida de uma pessoa.
Em todos os lugares, as pessoas a minha volta estão sempre com o celular na
mão, sempre atualizando suas histórias, status e grupos. Uma mesa de bar rodeada de
amigos com todos vidrados nos seus smartphones.
O
mais triste é que esses momentos de interação social costumam ser intercalados
entre abraços e sorrisos para a selfie
e o acompanhamento da repercussão do registro nas redes sociais. Eu precisei me
afastar um pouco para ver que eu mesmo faço exatamente a mesma coisa. De
repente, achei que o real não parecia tão interessante. A presença física não
seria mais importante do que a virtual e distante, via aplicativos. Como de
costume, nas mesas da vida, me senti só e precisei pegar o celular para
procurar algum tipo de interação. E lá estava eu no ciclo de novo.
Sei
que não vou me desconectar das redes. Primeiro, por não conseguir assim fácil e,
segundo, por questões de trabalho, nem posso me dar a esse luxo, mas agora
estou com mais inquietações do que quando assisti aos episódios de Black
Mirror. Quando você vê a coisa acontecendo no seu comportamento, você sente o
peso que isso tem na vida. Alguém mais já sentiu assim ou é só mais um devaneio
de mesa de bar meu?
Diogo Souza, 09 de maio de 2017