“A poesia
natural que o rodeia, ao se refletir na imaginação, não se transforma em poema.
Ele é, somente, um objeto no quadro, uma pincelada; um acidente na penumbra.”
(O Homem Medíocre – José Ingenieros)
(O Homem Medíocre – José Ingenieros)
A
lua parecia sorrir no céu, mas ele não percebia. O vento soprava e soava por
entre os montes compondo uma música lenta e melancólica, mas ele não ouvia. As
águas livres da pequena cachoeira diante de si declamavam poesias heroicas e
ardentemente apaixonadas, mas ele não as entendia.
Ele
não estava distraído, apenas não podia ir além do que seus olhos podiam ver e
os ouvidos escutar. Ele estava congelado como um grande iceberg à deriva no
oceano gelado. Sua frieza veio com os anos, com os nãos, com as desilusões, a
falta de fé em si mesmo e o amor próprio nunca cultivado naquelas terras.
Seu
olhar seguia fixo, olhando tudo e não enxergando nada. Ele era quase como uma
daquelas rochas inanimadas onde costumava se sentar nos fins de tarde. Tinha
toda a poesia do mundo diante de si, mas não a captava, não se apoderava dela.
O
reflexo de seu corpo imóvel sentado ali dançava na água do riacho ao ritmo da
melodia do vento e da poesia da cachoeira, mas ele não percebia. Não era capaz.
Ele estava cego, surdo e mudo.
(Diogo Souza, em 21 de julho de 2015)